Eu tenho ficado surpresa com a quantidade de estudos sobre ética nos negócios que são publicados ultimamente. Mas me assusta que ética seja uma palavra bonita na boca de muitos empreendedores e pouco praticada na sua integridade. Na verdade, a sensação que me dá é que certas pessoas não fazem a menor ideia do que estão falando quando discursam sobre ética.
Dentro de alguns dias participarei de um painel na Uniabeu sobre dilemas éticos do cotidiano corporativo e quando estou nesses momentos pré-palestras eu fico mais atenta aos insights que ocorrem diariamente à minha volta.
Vamos a uma parábola sobre este assunto. Um CEO possui uma pequena empresa. Vamos imaginá-lo como um desses sujeitos que muito discursa sobre ética. Durante algum tempo fora representante de outra organização, maior, mais respeitada cujo nome por si só era vendável, mas nos últimos 6 meses já não era mais.
Seis meses após encerrada a representação, ele convida um Diretor Executivo para assumir a representação da grande empresa oferecendo-lhe sociedade nos negócios.Em nome da grande empresa o Diretor Executivo abriu várias oportunidades de parceria.
Como ética é algo que não se discursa, se vive, passado algum tempo, o Diretor Executivo percebe inúmeras incoerências entre o discurso ético do CEO e sua prática. Passa a investigar aquilo que acha suspeito. Descobre pela matriz da grande empresa que não havia mais representações da mesma naquela cidade e que o CEO usava o nome da grande empresa para criar oportunidades negócios mas concretizava os negócios em nome da pequena empresa de sua propriedade não informando nem à grande empresa da sua parcela de lucro nem aos seus clientes que o negócio fechado não estava mais sendo feito com a grande empresa.
Qual deve ser a atitude do Diretor Executivo?
- Desligar-se da equipe e perder sua oportunidade de negócios?
- Informar à grande empresa das operações irregulares feitas em nome dela naquela cidade?
- Informar aos stakeholders da representação ilegítima?
- Informar aos companheiros de equipe da ilegitimidade de representação?
- Tirar o corpo fora, em silêncio e deixar que cada um descubra a verdade por si?
- Entrar no jogo do CEO e ganhar muito dinheiro de forma ilegítima?
- Tomar partido pela verdade mesmo sabendo que o CEO forjaria um meio de processá-lo?
Perguntas difíceis de responder, não é mesmo? E você, o que faria se estivesse nesta situação?
Rubem Amorese [1] escreveu um capítulo intitulado: "A ética que brota do amor" que mexeu bastante comigo. A síntese de seu artigo é que a ética só pode ser bem sucedida quando ela brota de algo maior, quando a motivação é amor que sentimos por Deus e pelo próximo, que é expressão da divindade neste mundo, pois ética pressupõe relacionamento com as pessoas e com Deus.
Amorese nos pergunta: de onde vem a força para dizer não, num mundo que diz constantemente: "eu tenho esse direito"? Como saber quais comportamentos são os melhores? São corretos e melhores só porque a sociedade nos propõe? E se esta sociedade, sem perceber, eventualmente nos propuser comportamentos que são fonte de um mal-viver?
O uso do poder não garante mudança de comportamento porque não muda o coração. Uma ética originada no poder constrói a vida dentro de um sistema no qual o que mais importa é não ser flagrado no erro, não ser punido publicamente.
E é isso que tenho visto em abundância no ambiente corporativo. Muitos diretores, CEOs e gestores de pessoas falam de ética, a ponto de ficar com a boca entupida de discurso. Ética é uma palavra bonita, que tributa respeitabilidade ao seu orador. Afinal, só deveria falar de ética uma pessoa que preza a ética ou que tem alguma autoridade moral para falar do assunto.
Eu acredito que quando o amor por Deus e pelo próximo está nas nossas entranhas e fornece energia vital para tudo que fazemos, fornece sentido para nossa existência. Nossas decisões, nestes casos, tomarão sempre o caminho de justiça pelo próximo que representa Deus nessa terra. Seja este próximo um cliente que comprará um produto errado, seja este próximo os diretores de uma empresa que estão sendo roubados ou seja este próximo meu colega de trabalho que está sendo enganado.
Apesar de o timbre de voz de Ana Carolina não estar na lista do meu gosto musical, que é um pouco "específico demais", segundo um amigo muito querido, admiro-a como artista e como intérprete. Num de seus shows ela fez esta belíssima interpretação que quero compartilhar com você.
Desejo que a Páscoa - ou Pesach - e todo o simbolismo que ela representa na passagem de uma vida antiga para uma vida nova, te ajude a escolher o caminho da ética como modelo de vida e não apenas como palavrório.
Boa Páscoa - Pesach - para você!
[1] Rubem AMORESE. A espiritualidade e a ética cristã. Em: Nelson BOMILCAR (org.). O melhor da espiritualidade brasileira. São Paulo: Mundo Cristão, 2005 (p. 131-146)
Profundo.
ResponderExcluirJá conhecia o conteúdo do vídeo
Para você
Boa Páscoa - Pesach.
A gente fala a partir das vísceras e dos poros, não é mesmo? Um abraço.
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